A propaganda emocional em temporalidades disfóricas da extrema direita

Esta mesa redonda explora as estratégias de comunicação e os efeitos emocionais das campanhas de extrema direita, com foco no bolsonarismo e no partido português CHEGA. Débora Messenberg analisa a propaganda emocional em tempos eleitorais, destacando como afetos como o ódio e o medo são mobilizados para ganhos políticos. Manuel João Cruz investiga as narrativas populistas de André Ventura, líder do CHEGA, explorando a construção de espaços populistas definidos, mas temporalmente frágeis. Através dessas análises, busca-se compreender o impacto da propaganda e das narrativas na erosão da democracia global e nos desafios políticos atuais.

Programa

Os propagandistas do ódio: a agitação política do CHEGA e do bolsonarismo-raiz em tempos eleitorais – Débora Messenberg, Professora Associada do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília e atualmente investigadora visitante no ICS da Universidade de Lisboa

Trata-se de elucidar os significados e os padrões recorrentes da agitação bolsonarista-raiz e do CHEGA ao longo das eleições gerais de 2018 e 2024, respectivamente, assim como os afetos políticos mobilizados em suas vitoriosas propagandas políticas. Empreendeu-se o levantamento das postagens emitidas por alguns dos principais formadores de opinião e influenciadores digitais bolsonaristas e do CHEGA em suas páginas oficiais no Facebook, Instagram e em seus canais no YouTube, durante o período autorizado para propaganda eleitoral.  O sucesso eleitoral dos movimentos de direita radical em várias partes do planeta depende, essencialmente, dos meios propagandísticos de cunho fascista utilizados, os quais ainda que sejam técnica, tornam-se a substância da própria política. A propaganda eleitoral da direita radical enquanto técnica de psicologia de massas, avivou afetos centrais para a mobilização política – o ódio, o medo, o ressentimento e a idolatria – os quais foram intensamente explorados por seus agitadores, como resultado da combinação entre meios racionais e fins irracionais.

Tempo e Espçao nas Narrativas Populistas – Manuel João Cruz, CES

A erosão global da democracia cria um terreno fértil para a ascensão de fenómenos populistas, caracterizados pela rejeição do liberalismo. Portugal, outrora visto como uma exceção, assistiu à emergência do partido Chega, liderado por André Ventura, desde 2019. Nesta mesa redonda, explorarei a narrativa populista de Ventura durante as suas intervenções como único deputado na XIV Legislatura da Assembleia da República. Baseando-me na análise narrativa de Marie-Laure Ryan, irei aprofundar as dimensões espaciais e temporais destas intervenções, utilizando a abordagem de Lotman à semantização do espaço e do tempo. Ventura cria espaços populistas que são espacialmente bem definidos mas temporalmente frágeis, resultando numa narrativa disfórica e atemporal. Esta falta de ancoragem temporal reflecte uma identidade política ainda em formação, dependente de um presente instável e marcado pela incoerência. Compreender estas fragilidades narrativas é crucial para decifrar as limitações e os desafios que o discurso populista coloca à democracia contemporânea.

Moderação e discussão: Cristiano Gianolla, CES

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The UNPOP project – UNpacking POPulism: Comparing the formation of emotion narratives and their effects on political behaviour, aims to explore how narratives of emotion allow a deeper analysis of the way populist phenomena constitute and influence political behaviour.
Thus, the series of events developed throughout the project will address several issues involving the recent growth of populism, focusing on the role of emotions – both those considered negative such as anger and fear, and those considered positive such as hope and love – in political behaviour.

UNPOP is coordinated by Cristiano Gianolla e Lisete Mónico and is based at the Centre for Social Studies and by  CINEICC – Center for Research in Neuropsychology and Cognitive and Behavioral Intervention of the University of Coimbra, and is funded by the Foundation for Science and Technology (PTDC/CPO-CPO/3850/2020)